Biografia de Stokely Carmichael - Ativista dos Direitos Civis (1941-1998)

Stokely Carmichael - Ativista dos Direitos Civis (1941 - 1998)



Sinopse:

Stokely Carmichael nasceu em Port of Spain, Trinidad e Tobago, em 29 de junho de 1941. Carmichael ganhou destaque como um membro e, posteriormente, o presidente do SNCC (Student Non Violent Coordinating Committee), trabalhando com Martin Luther King Jr. e outros líderes do Sul para realizar protestos. Ao perder a fé na tática de não-violência, passou a promover o "Black Power" e aliou-se ao Partido dos Panteras Negras.

Juventude e Educação

Famoso líder dos direitos civis, Stokely Carmichael nasceu em 29 de junho de 1941, em Port of Spain, Trinidad e Tobago. Os pais de Carmichael emigraram para Nova Iorque quando ele era uma criança, deixando-o aos cuidados de sua avó até a idade de 11, quando ele seguiu seus pais para os Estados Unidos. Sua mãe, Mabel, era uma comissária de bordo para uma linha de navio a vapor, e seu pai, Adolphus, trabalhava como carpinteiro durante o dia e  motorista de táxi à noite. Um imigrante trabalhador e otimista, Adolphus Carmichael perseguiu uma versão do sonho americano a qual seu filho viria a criticar como um instrumento de opressão econômica racista. Como Stokely Carmichael disse mais tarde: "Meu velho acreditava nesse negócio de trabalhar-e-superar (meritocracia, grifo meu). Ele era religioso, nunca mentia, nunca trapaceava, nunca roubava. Ele fazia carpintaria ao longo de  todo o dia e dirigia táxi à noite. O que restou a esse pobre homem negro foi a morte - de tanto trabalhar. E ele estava apenas em seus 40 anos. "

Em 1954, aos 13 anos, Stokely Carmichael se tornou um cidadão naturalizado americano e sua família se mudou para um bairro predominantemente italiano e judaico no Bronx, chamado Morris Park. Logo Carmichael tornou-se o único membro negro de uma gangue de rua chamada Morris Park Dukes. Em 1956, ele passou no teste de admissão para entrar no prestigioso Colégio de Ciência Bronx, onde ele foi apresentado a um estrato social totalmente diferente - filhos da elite liberal branca de Nova Iorque. Carmichael era popular entre seus colegas de classe; ele participou de festas com frequência e namorou garotas brancas. No entanto, mesmo com essa idade, ele era altamente consciente das diferenças raciais que o separava de seus colegas de classe.Carmichael mais tarde recordaria suas amizades do ensino médio em termos duros: "Agora que eu percebo o quão falso todos eles eram, como eu me odeio por isso. Ser liberal era um jogo intelectual com estes gatos Eles ainda eram brancos, e eu era negro."

Embora estivesse a par do Movimento Americano dos Direitos Civis por anos, não foi até uma noite próxima ao final do ensino médio, quando ele viu imagens de um sit-in (protesto sentado) na televisão, que Carmichael se sentiu compelido a aderir à luta. 

"Quando eu ouvi pela primeira vez sobre os negros sentados nos balcões de almoço lá no Sul", recordou mais tarde: "Eu pensei que eles eram apenas um bando de cães de publicidade. Mas uma noite, quando eu vi aquelas crianças e jovens na televisão voltando às banquetas depois de terem sido derrubadas, com açúcar em seus olhos, ketchup em seu cabelo, bem, algo aconteceu comigo. De repente, eu estava queimando.''

Ele se juntou ao Congresso da Igualdade Racial (CORE), fez piquete numa loja de Woolworth em Nova Iorque e viajou para participar de sit-ins em Virginia e Carolina do Sul.
Um estudante estelar, Carmichael recebeu ofertas de bolsas de estudo para uma variedade de prestigiadas universidades predominantemente brancas após terminar o liceu em 1960. Ele preferiu ingressar na Howard University, historicamente negra, em Washington, DC. Lá, ele se formou em Filosofia, estudando as obras de Camus, Sartre e Santayana, elaborando maneiras de aplicar os seus aspectos teóricos aos problemas enfrentados pelo movimento dos direitos civis. Ao mesmo tempo, Carmichael continuou a aumentar a sua participação no próprio movimento. Enquanto ainda um calouro em 1961, ele saiu em sua primeira Viagem da Liberdade - um passeio de ônibus integrado através do Sul para desafiar a segregação de viagens interestaduais. Durante essa viagem, ele foi preso em Jackson, Mississippi, por entrar em uma sala de uma parada de ônibus reservada "apenas para brancos"; ficou encarcerado por 49 dias. Implacável, Carmichael permaneceu ativamente envolvido no movimento dos direitos civis ao longo de seus anos de faculdade, participando de outra Viagem da Liberdade em Maryland, uma manifestação na Geórgia e uma greve de trabalhadores de hospital em Nova Iorque. Ele se formou na Universidade de Howard com honras em 1964.

Início da carreira com a SNCC 

Carmichael deixou a faculdade em um momento crítico na história do Movimento dos Direitos Civis. O Comitê de Coordenação Estudantil Não-Violenta, apelidou o verão de 1964 "Verão da Liberdade", lançando uma campanha agressiva para registrar eleitores negros no Deep South (Extremo Sul). Carmichael entrou para a SNCC como um recém-graduado da faculdade, usando suas habilidades de liderança e eloquência natural, sendo rapidamente apontado como organizador de campo, nomeado para o Condado Lowndes, Alabama. Quando Carmichael chegou em Lowndes County, em 1965, os afro-americanos eram a maioria da população, mas permaneciam totalmente sem representação no governo. Em um ano, Carmichael conseguiu aumentar o número de eleitores negros registrados de 70 a 2.600 - 300 a mais do que o número de eleitores brancos registrados no município.

Insatisfeito com a resposta de um dos principais partidos políticos para seus esforços de registro, Carmichael fundou seu próprio partido, a Organização de Liberdade do Condado de Lowndes. Para satisfazer a exigência de que todos os partidos políticos tivessem um logotipo oficial, ele escolheu uma pantera negra, que mais tarde forneceu a inspiração para os Panteras Negras (uma organização ativista negra diferente, fundada em Oakland, Califórnia).

Nesta fase em sua vida, Carmichael aderiu à filosofia de resistência não-violenta defendida pelo Dr. Martin Luther King Jr. Além de oposição moral à violência, os defensores da resistência não-violenta acreditavam que a estratégia iria ganhar apoio público para os direitos civis ao esboçar um contraste agudo - mostrado todas as noites pela televisão - entre a tranquilidade dos manifestantes e a brutalidade da polícia e hecklers (pessoa que interrompe locutores para fazer perguntas embaraçosas) confrontando-s. No entanto, com o passar do tempo, Carmichael - como muitos jovens ativistas -  ficou frustrado com o ritmo lento de progresso e ter de suportar repetidos atos de violência e humilhação nas mãos de policiais brancos, sem recurso.

No momento em que  foi eleito presidente nacional do SNCC em Maio de 1966, em grande parte Carmichael tinha perdido a fé na teoria da resistência não-violenta que ele e a SNCC estimavam. Como presidente, ele apontou a SNCC para uma direção bruscamente radical, deixando claro que os membros brancos, outrora recrutados ativamente, já não eram bem-vindos. O momento decisivo do mandato de Carmichael como presidente, e talvez de sua vida, veio apenas algumas semanas depois que ele assumiu a liderança da organização. Em junho de 1966, James Meredith, um ativista dos direitos civis que tinha sido o primeiro aluno negro a ingressar na Universidade de Mississippi, embarcou em uma solitária "Caminhada contra o medo" de Memphis, Tennessee para Jackson, Mississippi. Acerca de 20 milhas (aproximadamente 32 km) em Mississippi, Meredith foi baleado e ferido gravemente, sem condições de continuar. Carmichael decidiu que os voluntários SNCC deveriam conduzir marcha em seu lugar, e ao chegar em Greenwood, Mississippi, em 16 de junho, um enfurecido Carmichael deu o discurso pelo o qual ele seria para sempre melhor lembrado:


"Nós temos dito 'liberdade' por seis anos", disse ele.

"O que vamos começar a dizer agora é "Black Power".


Black Power

A expressão "Black Power" rapidamente pegou como o grito de guerra, uma geração mais jovem radical de ativistas de direitos civis. O termo também repercutiu internacionalmente, tornando-se um slogan da resistência ao imperialismo europeu na África. Em seu livro de 1968, Black Power: The Politics of Liberation, Carmichael explicou o significado do poder negro: ''É um chamado para os negros neste país para unirem-se, a reconhecerem a sua herança, para construir um senso de comunidade. É um chamado para os negros para definir seus próprios objetivos, para conduzirem suas próprias organizações. ''
Black Power também representou a ruptura de Carmichael com a doutrina da não-violência de King, e seu objetivo final de integração racial. Em vez disso, ele associou o termo com a doutrina do separatismo negro, articulada proeminentemente por Malcolm X. 


"Quando você fala de Black  Power, você fala de construir um movimento que irá esmagar tudo civilização ocidental criou", Carmichael disse em um discurso. 

Sem surpresa, a guinada para Black Power se revelou controversa, evocando o medo em muitos americanos brancos, mesmo aqueles anteriormente simpáticos ao movimento dos direitos civis, e exacerbando fissuras dentro do próprio movimento entre os defensores mais antigos da não-violência e os defensores mais jovens do separatismo. Martin Luther King chamou black power "uma escolha infeliz de palavras."

Juntando-se ao Partido dos Panteras Negras

Em 1967, Carmichael tomou uma jornada transformadora, viajando para fora dos Estados Unidos para visitar líderes revolucionários em Cuba, Vietnã do Norte, China e Guiné. Após o seu regresso aos Estados Unidos, ele deixou SNCC e tornou-se primeiro-ministro dos Panteras Negras mais radicais. Ele passou os próximos dois anos discursando em todo o país e escrevendo ensaios sobre o nacionalismo negro, separatismo negro e, cada vez mais, o pan-africanismo, que em última análise se tornou causa a vida de Carmichael.

Em 1969, Carmichael deixou os Panteras Negras e os Estados Unidos para estabelecer residência permanente em Conakry, Guiné, onde ele dedicou sua vida à causa da união pan-Africana. "Os Estados Unidos não pertencem aos negros", disse ele, explicando sua saída do país. Carmichael mudou seu nome para Kwame Ture para honrar tanto o presidente de Gana, Kwame Nkrumah, e o presidente da Guiné, Sékou Touré.

Últimos anos e Legado

Em 1968, casou-se com Miriam Makeba, cantora Sul-Africana. Depois de se divorciarem, ele se casou com uma médica guineense chamada Marlyatou Barry. Embora ele fizesse freqüentes viagens de volta aos Estados Unidos para defender o pan-africanismo como o único caminho para a libertação dos negros no mundo inteiro, Carmichael manteve residência permanente na Guiné para o resto de sua vida.

Carmichael foi diagnosticado com câncer de próstata em 1985, e embora não esteja claro exatamente o que ele quis dizer, ele disse publicamente que seu câncer "foi-me dado por forças do imperialismo norte-americano e outros que conspiraram com eles. '' Ele morreu em 15 de novembro, 1998, com a idade de 57.

Um orador inspirado, ensaísta persuasivo, eficaz e organizador, pensador expansivo, Carmichael se destaca como uma das figuras mais proeminentes do movimento americano dos direitos civis. Seu espírito incansável e perspectiva radical são talvez melhor expressas pela saudação com que ele respondeu ao telefone até seu dia de morte: "Pronto para a revolução".

Texto original em:

Stokely Carmichael Biography
Civil Rights Activist (1941–1998)

http://www.biography.com/people/stokely-carmichael-9238629#later-years-and-legacy

Tradução: Jomo O.Campos
Revisão: Regina Maria da Silva

Algumas frases de Stokely Carmichael:


               


Dizem pra gente, "Se você trabalhar duro, você terá sucesso.Mas se isso fosse verdade, o povo negro ganharia esse país. Nós somos oprimidos por sermos NEGROS, não por sermos ignorantes, não por sermos preguiçosos, não por sermos estúpidos (e sermos bons de molejo), mas por sermos NEGROS."


"Se um homem branco quer me linchar, é problema dele. Se um homem branco tem poder para me linchar, é meu problema. Racismo não é questão de postura; é questão de poder."



"Para que a não-violência funcione, seu oponente deve ter consciência. Os EUA não têm consciência alguma".



"Quando eu digo Poder Negro (Black Power), eu sei exatamente do que estou falando. Mas quando o homem branco chega em mim e diz, 'poder negro: isso significa violência, né?'. Eu me recuso a responder isso. Eu sei do que estou falando. Se o homem branco não sabe do que estou falando, é problema dele. Porque as pessoas negras me entendem é com elas que estou falando, de qualquer forma."




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